domingo, 24 de novembro de 2013

Mídias na Educação



A HISTÓRIA DA LINGUAGEM ALÉM DA COMUNICAÇÃO

Flávia Dias Siqueira

Lívia Célia Faleiro Rosa Machado


O pensamento envolve uma construção consciente e inconsciente da realidade na qual vivemos. Consciente, no sentido de que percebemos parte daquilo que deixamos nossa mente assimilar, mas, inconscientemente, milhares de “janelas” em nossa memória são abertas e fechadas sem nosso consentimento, alimentadas por nossas emoções e sustentadas por nossas ações. A abstração das ações, repulsas e angústias em relação aos fenômenos aos quais estamos susceptíveis no convívio humano, bem como as relações que presenciamos e vivenciamos ao longo do nosso processo de desenvolvimento biológico e físico, influenciam e interferem em nossa maneira de compreender o mundo e atuar nele.

Diante dessa perspectiva psicológica, senão psiquiátrica, o desenvolvimento do pensamento se sustenta na relação entre o corpo (ações) e a compreensão das nossas ações no mundo (memória); a superação das memórias acomodadas ao longo do processo de desenvolvimento gera no sujeito diferentes reações diante dos novos aprendizados. Os estudos de Piaget com crianças demonstram a relevância desses processos tanto para a superação das fases durante o desenvolvimento humano como para a compreensão do sujeito enquanto ser social.

Há estudiosos que defendem o desenvolvimento prévio do raciocínio lógico-matemático à linguagem, reconhecendo em sujeitos com disfunções neurais, na parte do cérebro responsável pela linguagem, a capacidade de realizarem raciocínio matemático. Este fato apenas nos leva a refletir sobre como a memória pode trabalhar eficientemente, ainda que uma de suas partes fundamentais esteja comprometida.

Nesse contexto, a linguagem exerce uma importância mais social e política ao mundo civilizado do que biologicamente relevante para o desenvolvimento dos sujeitos. Uma vez que mesmo sujeitos portadores de algum tipo de déficit de memória consigam se expressar sem a necessidade da decodificação de sinais gráficos (oralidade) ou, como na antiguidade que as maneiras de expressão eram exclusivamente artísticas (desenhos); ou mesmo através dos gregos, que historicamente foram os responsáveis pela disseminação dos conhecimentos através da oralidade.

A linguagem verbal não supera a linguagem “não verbal”, antes de tudo a primeira é um aperfeiçoamento desta última, haja vista o processo histórico que transpassa a oralidade. A escrita foi fundamental ao processo de desenvolvimento das civilizações, no sentido de tornar eterno aquilo que se ensinava oralmente, mas não tornou menos importante a essencialidade da mediação do conhecimento através da oralidade. Acrescentando-se a essa análise a linguagem digital, da contemporaneidade, que mesmo apesar de todo overload ainda carece de ser mediada para ser assimilada e corretamente processada pela memória para uma interpretação significativa.

Para tornar possível a construção, transmissão, mediação e assimilação do conhecimento por meio da linguagem, seja ela verbal ou não, os suportes, ainda hoje, exercem papel fundamental. Na antiguidade, das paredes rochosas e corante naturais, passando pela argila, até chegar ao papiro, aperfeiçoando por gerações até a invenção da imprensa. Revolução e também exclusão sempre estiveram presentes nas sociedades da linguagem oral ou na escrita, ou ambas; sendo justificativa de abandono, morte e até mesmo construção e destruição de impérios e ideologias, em sua maioria, para dominação. A linguagem digital é apenas uma nova ferramenta do conhecimento, mais rápida e eficiente sob a ótica da aquisição de informação (instrução), mas que continua a ser uma meio também de exclusão.

A linguagem em sua origem foi oral, porém teve expressividade na escrita primeiramente com marcas rudimentares em desenhos na Idade da Pedra, feitos com os dedos em argila úmida. Depois se passou a fazer associações com sons nas próprias imagens, até chegar à escrita alfabética. Esta nova convenção ganhou um novo aliado: a impressão com caracteres de madeira, que evoluiu para a estrutura metálica até chegar ao meio digital.

Inicialmente a língua foi desenvolvida através de canções em cultos religiosos, que eram transmitidas de forma oral através de gerações. Com o surgimento da escrita, a linguagem passou a ser registrada em cavernas com ilustrações que simbolizavam a expressão oral. Essa representação de símbolos era na época o objeto de conhecimento, ou suporte, que tinha como mediação até o sujeito, a linguagem. E, através dessas composições remotas se tem o registro das primeiras obras literárias da história.

Esses primeiros registros de escrita receberam o nome de pictografia, eram puramente desenhos que se referiam ao perigo de um animal, ou caça por perto e até prováveis rituais de magia. Outro sistema mais evoluído por conter um conjunto de sinais silábicos e fonéticos foi a escrita cuneiforme, que recebeu esse nome por ser desenvolvida por incisões com uma haste em forma de cunha. Ela se destacada por ser totalmente abstrata.

Já no Egito, se desenvolveu a escrita hieroglífica, que além de representar os objetos utilizando imagens, existia a preocupação de se representar os sons, então foram empregados dois sinais, um para indicar som e outro, significado, da qual provém a língua japonesa. Mas, vale ressaltar a ideográfica, caracterizada por utilizar rabiscos e figuras associados a imagens, o que convencionou a escrita alfabética. Primeiro surgiram os conjuntos de sinais específicos que representavam sílabas, os silabários, depois foi inventado pelos fenícios um sistema de caracteres que representavam encontro consonantal.


A escrita foi um trunfo no sentido de resguardar a comunicação e transcender o momento histórico, atendendo as gerações sucessoras para a transmissão e desenvolvimento da cultura. Esse momento é consideravelmente relevante, comprovado pela divisão estabelecida da História e Pré-história e desenvolvimento da ciência. Como forma de divulgação passou-se a utilizar tabletes de argila, rolos de papiro, tábuas de madeira, seda e pergaminho. Por volta do século I, surgiu o livro, com estrutura de páginas encadernadas, menos quebradiças que o papiro e de fácil manuseio, o que desencadeou no século IV, numa grande escala de produção e favorecimento da imprensa.

O próximo advento se trata do computador, o que tornou a escrita ainda mais difundida e passou a atender maior número de leitores. Além da massividade, a Internet também tornou propensa a interatividade, no que tange a possibilidade de o emissor também ser receptor, e vice-versa. Esse suporte também propicia a convergência de outras mídias, como televisão rádio e jornal, o que aumenta sua capacidade de abrangência.



REFERÊNCIAS


· CURY, Augusto. Armadilhas da mente. São Paulo, Arqueiro. 2013.


· Material disponibilizado pelo professor. Disponível em: <https://www.moodle2.ufop.br/login/index.php> Acessado de 27/10/13 a 08/11/13.


· VYGOTSKY, L. – Pensamento e linguagem. SP, Martins Fontes, 1988.



“Os limites da minha língua são
os limites de meu mundo.”

(WITTGENSTEIN, 1889-1951).

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