O letramento enquanto
ferramenta social norteadora da formação de cidadãos
Flávia Dias Siqueira
O
exercício da leitura envolve prazer, abstração e uma pitada valorosa de
curiosidade. Para tornar a leitura um hábito é essencial instigar a curiosidade
do leitor previamente e que se faça presente, desse modo, a oportunidade deste
escolher o modelo de suporte que mais lhe atrai, bem como o estilo literário; tais
considerações são essenciais para iniciar a caminhada de formação de cidadãos
críticos e reflexivos. Entretanto, não podemos, enquanto pais e educadores,
limitar as opções ou julgar este ou aquele título como o mais apropriado; à priori, devemos dar a liberdade para
que escolham e ponderar, juntos, sobre o tema mais adequado à idade.
A
leitura não é restrita ao texto escrito, sendo de suma importância revelar este
fato desde a mais tenra idade. A leitura se faz por diferentes maneiras, desde
a interpretação da emoção pela expressão da face, tentativas de decifrar
desenhos e símbolos até a decodificação de sistemas ordenados de tracejados.
Assim, o aluno letrado não pode se deixar alienar pela aquisição de informação
apenas pelo texto escrito, ele deve ser orientado, estimulado, a uma percepção
além das meras conveniências sociais. Tal fato pode parecer impreciso,
descabido, mas o que se observa e interpreta em nosso convívio social é que as
relações humanas não são expressas em sua totalidade em escritos óbvios à
leitura, mas em grande parte requerem a atenção e interpretação dignas daqueles
que se predispõem a encontrar algo a mais nos suportes aos quais tem acesso.
As
ferramentas para o exercício da leitura com vistas à formação de um aluno
letrado e cidadão ativo em seu contexto requerem, além da leitura, coragem e
determinação, significativas, que sustentem seu ponto de vista, mas que também
sejam condizentes com sua realidade. Os suportes de leitura são variados (livros,
revistas, jornais, internet, televisão, tablet, outdoors, folders, bulas de
remédio, etiquetas, entre outros), assim como os da escrita, ao longo do tempo
(paredes de rochas, tábuas de argila, pergaminhos, papel e recursos digitais)
sugerindo a pais e educadores que sejam atentos a este relevante fato social, a
que tipo de suporte os nossos filhos e alunos têm acesso, em como estão sendo
estimulados a uma reflexão sobre sua formação cidadã mediada pelas novas
tecnologias; desenvolver o hábito que os instigue à prática da leitura e produção
de diferentes modelos textuais.
Justamente
pelo fato da escrita evoluir com o tempo, bem como a informação, o conhecimento
transmitido e mediado e os suportes de acessibilidade a esta, é que a leitura
proficiente, crítica e reflexiva mostra-se um instrumento social valioso às
mudanças sociais, valorizado pelos educadores mediadores do conhecimento e
reprimido por uma minoria social que há séculos promulga legislações
desconexas, em sua maioria, com a realidade da maioria da população.
Enfim,
qualquer conhecimento que se assimile sobre o mundo, verbalmente ou não, por
diferentes suportes de leitura e escrita, respeitando a especificidade de cada
grupo social, sem preconceitos étnicos ou raciais, que envolva a humanidade,
deve ser compreendido pelos sujeitos como essencial à sua formação, deve
superar a visão utópica, seja ele prazeroso, tedioso ou momentaneamente
desconexo. Aqui cabe uma consideração sobre a diferença entre alfabetização e
letramento: nem sempre o indivíduo alfabetizado é letrado, pois existem
analfabetos funcionais, que são aqueles indivíduos que reconhecem as letras e
assinam o nome, mas não conseguem interpretar a informação, mesmo diante desse
fato o seu conhecimento de mundo deve ser desvalorizado, pois os fatos não se perdem
ao serem contados por eles, mas podem se transformar.
PROJETOS
(Planos) AVALIADOS:
1. Mural
de animais em extinção (Ciências)
O projeto
trabalha de maneira simples e eficiente um tema que muitos alunos ainda
desconhecem principalmente sobre a região onde moram. Permite também
se ater a questões ambientais e antrópicas que sejam permissivas a esta
situação. Permite pesquisas e produções textuais em diferentes suportes.
A
atividade sugerida no projeto é uma possibilidade, mas também pode ser
substituída/adaptada por outras, como a produção de um jornal na escola que
retrate o tema a partir de pesquisas ou uma feira cultural, com palestras com
profissionais convidados pelos alunos, a respeito das espécies ameaçadas na
região onde os alunos residem. Apresenta flexibilidade quanto às séries com as
quais se pode trabalhar.
2. A
escravidão no Brasil
A
proposta permite trabalhar uma questão ainda desconhecida quanto à sua
magnitude pelos alunos. O tema também é relevante a todas as séries, o que
permite uma adaptação quanto às atividades propostas. O letramento diante desse
tema permite a análise mais aprofundada em relação aos resquícios sociais que
ainda perduram nos dias de hoje, como é o caso da exclusão social insistente do
negro e as oportunidades de emprego melhores ainda estarem vinculadas a pessoas
de raça branca.
A
atividade sugerida no projeto é uma possibilidade simples (básica), sugerimos
aprimorá-la para ser trabalhada co alunos de 8º ano, com a produção de um blog que
retrate o tema a partir de pesquisas com profissionais negros entrevistados
pelos alunos, a respeito da situação social do negro desde a época imperial aos
dias atuais, refletindo, por exemplo, sobre os motivos da escravidão e a visão
de cotas educacionais atual, bem como a situação do negro no atual contexto
social.
3.
Sobre projetos didáticos
Aqui
nos arriscamos a analisar sobre o tema junto aos colegas (de curso) educadores,
com a intenção de melhor compreender a estruturação de um projeto e como
desenvolvê-lo de
maneira eficiente, com o intuito de trocarmos experiências e trabalhar em equipe
de modo a priorizar a coerência com as propostas, sem deixar a desejar a
especificidade de cada conteúdo curricular.
Sugerimos uma atividade junto a
três colegas de profissão, de conteúdos curriculares a fins ou diferentes, e
que a atividade/avaliação final seja única. Muito se discute sobre
interdisciplinaridade, mas pouco se pratica. Diante disso, propomos uma feira
cultural que trabalhe a produção textual em diferentes suportes de leitura e
escrita e que aborde os conteúdos curriculares de maneira uma. Para isso
idealizamos uma típica feira em forma de quermesse, onde ao invés de comidas
típicas os visitantes se deliciem com diferentes modalidades de leitura e
escrita (científica, cordel, poesias, poemas, textos jornalísticos, enfim). A
avaliação dos alunos será otimizada pela participação nos grupos de trabalho e
na feira.
“E, acima de tudo: tenha Fé.”
Filme: Nanny MacPhee - A babá encantada