segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

TV, VÍDEO E EDUCAÇÃO: TRIO PARA UMA FORMAÇÃO CIDADÃ


“A partir de câmeras fotográficas digitais e celulares, passamos a registrar em vídeos nossas ações de forma cotidiana. Nosso computador pessoal vem, aos poucos, ganhando ares de ilha de edição, tanto para fotografias, como para músicas, vídeos e filmes. Assim, a linguagem audiovisual ganhou um grande destaque com esta nova revolução tecnológica, inclusive no ambiente escolar e na produção do conhecimento.” ROCHA, 2014

O audiovisual no contexto socioeducativo contemporâneo
Flávia Dias Siqueira


A aprendizagem formal, oriunda das instituições de ensino escolares, envolve crianças e adolescentes em períodos de desenvolvimento significativos à sua formação enquanto sujeito, e que, ao mesmo tempo, se caracterizam pela relevante ruptura e construção de novas estruturas psicológicas, às quais delinearão sua personalidade e influenciaram seu modo de ver e agir no mundo. As relações inter e intrapessoais construídas ou não por esses infantes se darão menos por aparência e mais por gostos, perfis de conduta e, principalmente, semelhanças quanto ao modo de pensar e refletir sobre os fenômenos. Nesse contexto, os recursos audiovisuais, como a TV e o vídeo, aparecem intrínsecos, por serem mais acessíveis e utilizados pelos mesmos, em casa e pelos profissionais da educação, enquanto inseridos no contexto socioeducativo. A reflexão sobre essa temática nos remete a inúmeros paradoxos, uma vez que a TV é vista ora como recurso não pedagógico, ora como um veículo de informação relevante.
Como aliar o educativo e o audiovisual em um contexto midiático que se mostre relevante à formação de cidadãos? Os programas educativos da televisão realmente educam? A TV aberta respeita as classificações indicativas?  É mais adequado selecionar a programação que nossos filhos assistem ou desligar a TV? São questões como essas que norteiam calorosos debates e fomentam projetos e pesquisas tanto sobre o uso dos recursos audiovisuais, como a TV e o vídeo, no contexto educacional como em situações de não aprendizagem. Diante disso, deve-se analisar as aptidões do público ao qual se destinam a maioria dos programas televisivos e aos quais é intrínseco o planejamento pedagógico: a juventude. Este aspecto remete a uma análise minuciosa, que se sobrepõe a meros aspectos pedagógicos ou educativos, pois se trata primeiramente da questão humana.
Não podemos negar que Bourdieu tem razão ao admitir a televisão como recurso audiovisual de alienação em massa, a maior parte da programação da TV aberta remete ao fato sensacionalista ou de desfocar informações e a atenção da população às circunstâncias importantes. Mas, ao mesmo tempo, devemos analisar os pressupostos de Machado, que vislumbra uma visão educativa de programação, e onde a televisão se apresenta como recurso educativo. Entretanto, como Vygotsky analisa a construção do psicológico infanto-juvenil, não devemos desconsiderar a questão social, pois esta é inerente ao sujeito social e cultural, justificando uma atenção peculiar ao se retratar situações e recursos que educam e aqueles que alienam. Aproximar o contexto midiático da educação formal, e, ao mesmo tempo, do cotidiano dos jovens não é tarefa fácil, ao contrário, se mostra um desafio aos educadores, pois há uma persistência no que diz respeito ao paradigma tradicionalista de ensino-aprendizagem e também uma visão um tanto quanto preconceituosa de alguns educadores e gestores sobre o uso dessas mídias no ambiente escolar.
Concordo que a escola deve educar de acordo com a norma padrão, mas discordo quando alguns educadores e gestores caracterizam algumas situações de uso dos recursos audiovisuais como algo do tipo “tapa-buraco”, “vídeo-enrolação”, dentre outros predicados pejorativos. Admito que aconteçam, mas acima de tudo reconheço que situações assim remetem também à equipe pedagógica como um todo. Muitas vezes, principalmente em escolas da rede pública, profissionais se ausentam de suas atividades por inúmeros motivos, a o sistema não disponibiliza profissionais eventuais (que ficam no lugar quando alguém se ausenta) para as séries finais e ensino médio, tão pouco esses profissionais são programados para antever as mais variadas intempéries. Identifico que situações como as descritas vão além de mera enrolação, mas dizem respeito ao que todo profissional, independente do cargo que ocupa, está predisposto. Cabe aos colegas, no caso da educação, tirar proveito de um momento assim para educar, ao invés de pormenorizar ambos, o contexto e o profissional.
O enfoque atual são as redes sociais e a linguagem utilizada por aqueles que são assíduos a esta, diante da rapidez com que deve ser dar essa comunicação diante dos fenômenos a serem compartilhados. Acrescenta-se a este fato que nas redes sociais são postados comentários e imagens sugestivas a debates sobre situações que acontecem paralelas àquelas retratadas, muitas vezes parcialmente, pela televisão; como no período das manifestações populares em 2013. Nesse contexto, entram os educadores como mediadores do saber que podem focalizar ou desfocar os debates sobre os assuntos retratados pelas redes sociais e pela TV; podem fomentar debates significativos a uma reflexão cidadã ou apenas ignorarem as perguntas dos alunos “porque tem que cumprir o planejamento”, e ainda podem ser alheios a tudo que acontece justificando estar no livro didático toda a informação que os alunos necessitam para sua formação.
As imagens que antecedem o título desse texto sugerem uma visão “libertadora” sobre a maneira de educadores e jovens reconhecerem a importância dos recursos audiovisuais para sua formação e aprendizagem. Não se trata apenas de “colocar um filme para os alunos”, nem de ver o filme como algo “descontextualizado com a matéria”. No momento atual, onde a educação é vislumbrada como um processo interdisciplinar onde os conteúdos devem dialogar entre si, não deve haver espaço para “o filme tal é adequado para a aula de Ciências e não para a de História”, mas sim ao reconhecimento de que aquilo que os jovens sugerem deve devem ser inserido e analisado no contexto socioeducativo, articulando diferentes conteúdos do saber. Caso contrário, estamos sendo incoerentes com o discurso. Afinal, que tipo de aluno queremos ensinar, transformar e educar?
Enfim, se a vida escolar, assiduamente planejada, fosse condizente com a vida extra-escolar, e que, nesse sentido, dialogasse com sua realidade, costurando sentido à vida desses jovens e alunos, precisaríamos continuar a nos preocupar como a programação da televisão os influenciará? Não estaríamos sendo hipócritas - enquanto pais e educadores, ao julgar, na maioria das vezes sem a devida análise e neutros a paradigmas e ideologias massantes e alienadoras – ao dialogarmos com as questões existenciais e educacionais ao mesmo tempo em que na prática temos uma postura contrária a estas? Como costumo defender: todo momento é um momento de aprendizado que deve ser submetido a uma análise social, cultural e educacional livre de prejulgamento e passível de sugestão, assim dialogamos interdisciplinariamente.



REFERÊNCIAS

·         Vários autores. A Linguagem Audiovisual das Mídias: Televisão e Vídeo Como Suportes Para Estimulação Do Processo Ensinar-Aprender-Ensinar. RETEME, São Paulo. v.2. n.2. 2012 (p. 38-47)
·         RODRIGES, Hila; MAIA, Marta. Juventude, Imagem E Som: recriando narrativas audiovisuais. In ROCHA, Adriano Medeiros da. Audiovisual e Juventude. Ouro Preto: UFOP, 2011.
·         UFOP. Josefino é o meu nome. Disponível em:
·         UFOP. TV Vanguarda: cinema na escola. Disponível em:


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